Saturday, May 3, 2008

MUGABE, E DEPOIS...



Só se admira com o comportamento de Mugabe quem não conhece os seus antecedentes e a sua ideologia nem as condicionantes que o levaram a aceitar os acordos de Lancaster House.Desde o início das conversações que Mugabe se recusava a qualquer tipo de acordo que n-ao passasse pela expulsão de todos os brancos, a apropriação de todos os seus bens( em beneficio da nova clique dirigente), julgamento e provável execução, dos membros do governo rodesiano, no tempo da Declaração Unilateral de Independencia.Se isto não fosse aceite, ele preconizava a ruptura das negociações e a continuação da luta armada. Mas para que esta política tivesse alguma vantagem para as forças de Mugabe, era-lhe necessário o apoio de Moçambique, em cujo território tinha e contava poder continuar a ter as bases militares e os santuários para a continuação da sua " luta de libertação " que era apenas um disfarce para uma luta de destruíção e rapina.
Foi aqui que mais uma vez o espirito conciliador e a diplomacia de Samora Machel se fizeram sentir. Chamou Mugabe e comunicou-lhe que ou ele aceitava os acordos ou Moçambique lhe retirava todo o apoio, expulsando-o e às suas forças do território moçambicano. Foi por isto e contra vontade que Mugabe aceitou os aordos de Londres que levaram ao governo de maioria e à fundação do Zimbabué. Por isso a primeira-ministra britânica agradeceu e, nas suas memórias, rendeu homenagem a Samora Machel.Foi por isso ainda que o Zimbabué estabeleceu uma democracia multi-racial, com o domínio da maioria e o respeito das minorias, sem que estes sucessos sociais e políticos impedissem a continuação de uma economia saudável e capaz de proporcionar ao seu povo um desenvolvimento sustentável.
Mas quando Mugabe começou a ver que, com a usura natural do poder, este lhe podia fugir das mãos, num regime comandado por principios democráticos começou a dar golpes que,pensava, lhe aumentariam a popularidade. Assim, além das práticas de manipulação de eleições, expulsou e roubou os fazendeiros brancos, lançou-se numa guerra no Congo, apenas para se apoderar de diamantes, pôs o povo, brancos e negros, a emigrar, creou fome no país, antes excedentário em alimentos e provocou uma inflacção disparatada e incontrolável.Mas nem com tanta prepotencia e manipulação conseguiu ganhar as eleições, o que significa que está politicamente acabado.Os seus antigos amigos e aliados , da África do Sul, de Moçambique, da Namíbia e de Angola, que tão pouco intervenientes se têm mostrado, devem agora começar a tomar iniciativas, seguindo o exemplo de Samora Machel, para lhe criar uma saída airosa e digna.